16 agosto 2010

Estudo sugere que vírus da Aids já tem cem anos

CHICAGO (Reuters) - O vírus da Aids começou a se disseminar entre humanos na virada do século 20 na África Subsaariana, coincidindo com o surgimento de cidades modernas na região, disseram pesquisadores dos Estados Unidos em artigo publicado na quarta-feira na revista Nature.

Os cientistas acreditam que o crescimento das cidades --e os comportamentos associados à vida urbana, especialmente na área sexual-- podem ter contribuído para a propagação da doença.

Estimativas anteriores datavam o surgimento do vírus HIV por volta de 1930. Mas Michael Worobey, da Universidade do Arizona, em Tucson, acha que o contágio em humanos começou entre 1884 e 1924.

A pesquisa se baseia em fragmentos genéticos do nódulo linfático de uma mulher, embebido em cera 48 anos atrás em Kinshasa, na República Democrática do Congo.


Essa amostra de 1960 traz a segunda mais antiga sequência genética do grupo M do vírus HIV-1, a principal cepa responsável pela pandemia de Aids.

A sequência mais velha aparece em uma amostra sanguínea de 1959, doada por um homem de Kinshasa (cidade que na época se chamava Leopoldville).

"Tendo as duas, é possível alinhá-las e compará-las", disse Worobey por telefone. "Dá para ver que as duas sequências são muito diferentes. Isso significa que os vírus já estava por lá durante muito tempo mesmo em 1959 ou 1960."

Com essas duas e dezenas de outras amostras do HIV-1, os pesquisadores construíram árvores genealógicas do vírus.

"Essas velhas sequências ajudaram a calibrar o relógio molecular, que é essencialmente o ritmo em que as mutações se acumulam no HIV", afirmou Worobey.

"Com este ritmo, dá para trabalhar retroativamente e saber quando o ancestral de toda a cepa pandêmica do vírus da Aids se originou. É esse ancestral que estamos datando em 1908, com mais ou menos cerca de 20 anos ."

Outros estudos sugerem que o vírus inicialmente foi difundido de chimpanzés para humanos no sudeste de Camarões. Worobey acha que a doença se deslocou lentamente entre a população local, até que uma pessoa contaminada migrou para Kinshasa, onde havia mais condições para a difusão.

Por volta de 1960, segundo ele, milhares de pessoas podiam já estar contaminadas com o HIV. Em 1981, o resto do mundo começou a conhecer a epidemia, que já infectou 33 milhões de pessoas e matou 25 milhões.

Worobey acha que seu estudo traz alguma esperança para o combate à doença. "O HIV é um desses agentes patogênicos que poderiam ser considerados como à beira da extinção . Isso significa que há coisas que poderíamos fazer para que realmente ele não tenha a chance de se propagar."

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