06 novembro 2010

Micoses Profundas

Na dermatologia vamos abordar as micoses profundas que são aquelas q invadem a pele, atingem o tecido celular subcutâneo e que vão, eventualmente, comprometer outros órgãos e sistemas (diferente das micoses superficiais que ficam restritas a camada córnea).

Falaremos das micoses profundas de interesse dermatológico: espotricose, cromomicose e micetomas que são restritos ao tecido celular subcutâneo podendo atingir linfonodos. A paracococidioidomicose é que veremos com mais detalhes ou blastomicose sul-americana que é de comprometimento sistêmico.
  • Esporotricose

A esporotricose é causada pelo Esporotrix schenkii que é um fungo de distribuição universal e se desnvolve nas vegetações, principalmente na palha. De forma endêmica a esporotricose vai ocorrer principalmente em determinadas ocupações (floricultor, agricultor, ...). Exceto qdo vc tem o gato doméstico como vetor q é um grande vetor responsável por microepidemias em determianadas regiões. Geralmente tem um só foco de inoculação. No homem, qdo vc vai fazer exame micológico, vc dificilmente encontra o fungo. No gato não, ele tem uma grande quantidade de fungo no exame micológico direto.
A fisiopatogenia é igual para todos, excetuando o paracoco. A doença ocorre por inoculação percutânea. Este fungo desencadeia no ser humano uma resposta granulomatosa sempre. Não faz exudação nem supuração, somente o granuloma. E o que é o granuloma? Vc tem os macrófagos do local q se aproximam do Ag e estes macrófagos precisam ser ativados por lifócitos para fagocitar. Então, vc tem os linfócitos estimulando eles e eles se transformam em células epitelióides que são macrófagos ativados. Eles têm competência para restringir o parasito q pode ser o BK, por exemplo, mas não têm competência para destruir. Eles então englobam o Ag formando o granuloma com um monte de células multinucleadas e uma coroa de linfócitos em volta disto tudo que está mandando citocinas para manter os macrófagos ativados. É isto que veremos na patologia de todos eles. Viu resultado de patologia escrito granuloma, pensamos em: Bk, sarcoidose e sempre as micoses profundas como diagnóstico diferencial.
Clínica: pc foi fazer um arranjo de flores, se espetou num espinho e assim foi inoculado o Esporotrix. Isto fica como um ferimento tolo e depois de +/- 1 ou 2 semanas, ao invés da cura, fica como uma pápula eritematosa como se fosse uma picada de inseto. O pc não dá muita importância e depois de mais 2 a 4 semanas, aquilo que era uma pápula, ulcera pq a tensão do granuloma na pele sobrejacente causa isquemia, pq está expandindo e alterando a vascularização daquele lugar, tendo como resultado a ulceração.
Lesão elementar: lesão nódulo-tuberosa ulcerada. É uma pápula que vai se aprofundando, vira um nódulo ou tubérculo, uma lesão nódulo-tuberosa que compromete toda extensão da derme reticular. Esta é a lesão inicial da esporotricose que ocorre na maioria das vezes nas mãos. O pc é assintomático, não tem dor, nem febre. De repente começa a surgir nódulos no trajeto linfático que drena aquela lesão. Nódulos eritematosos, pouco ou nada dolorosos, duros e depois de um tempo começam a ter flutuação central e fistulizam, drenando uma secreção pio-sangüinolenta. Um nódulo que fistuliza denomina-se GOMA (lesão típica da esporotricose). A apresentação característica é de linfangite nodular ascendente (ou descendente, depende do local de inoculação do fungo). O que diferencia isto de uma infecção bacteriana? Na infecção bacteriana, o pc vai estar febril, toxêmico e alegando muita dor. Pc com esporotricose não apresenta estes sintomas. Às vezes, se o pc apresentar uma excelente resposta imunológica ao fungo, a lesão pode se apresentar como uma lesão vegetante ( lesão verrucosa de caráter infeccioso).
Diagnóstico laboratorial: demonstrar o parasito na lesão. Biópsia da lesão com envio de material para micologia e parte para cultura (cresce com uma semana). A patologia só vai ver o granuloma e não te diz nada. Para a prova: exame micológico direto e cultura.
Diagnóstico diferencial: qdo a lesão é a goma: leishmaniose e micobacterioses atípicas. Na forma verrucosa: LECT leishmaniose, esporotricose, cromomicose, tuberculose cutânea, excluindo o HPV que provoca a verruga vulgar que é uma lesão verrucosa.
TTO: diferente de tudo. Tem como preferência o iodeto de potássio que desfaz o granuloma sozinho. Se não tratar, cura espontaneamente, mas deixa várias cicatrizes. Tem que mandar fazer em manipulação, solução saturada de iodeto de potássio e manda o pc tomar 10 gotas com suco ou leite nas 3 refeições diárias devido ao gosto metálico, e vai aumentando 1 gota por dia em cada tomada. Em geral, com 30 gotas vc resolve o problema e qdo houver a cura clínica, vc ainda mantém por mais 1 mês esta solução e depois suspende. Para alérgicos a iodo: itraconazol 2 comp 100mg/dia com o mesmo critério para suspensão do tto. A terbinafina (lamisil) 250mg/dia tbm funciona.

  • Cromomicose (micose = fungo; cromo = cor)

Pc assintomático apresentando lesão vegetante verrucosa com vários pontos pretos na lesão devido pigmento produzido pelo fungo. O fungo está na derme profunda e provoca, devido a toxicina, um estímulo para epiderme crescer formando a lesão que lentamente vai progredindo por contig6uidade. Na visualização microscópica, vê-se células leveduriformes arredondadas de tonalidade castanha. Esta lesão verrucosa é porta de entrada para uma erisipela, por exemplo. Nenhuma destas micoses profundas têm contagiosidade inter-humana.
Agentes etiológicos: Fonsecae pedrosoi (principal no Brasil), Phiolophora verrucosae, Cladosporium carrioni.
Epidemiologia: fungo saprófita do solo e por isso é uma dç basicamente do homem adulto agricultor.
Fisiopatogenia: contaminação por penetração percutânea, trauma e muito comum em MMIIs. Fungo penetrou, fez granuloma, estimulou a epiderme a crescer, fez hiperplasia epidérmica verrucosa com progressão lenta e contínua.
Histopatologia: granuloma com presença das células fúngicas arredondadas acastanhadas.
Diag labortorial: exame micológico direto e cultura.
Diag diferencial: LECT.
TTO: muito difícil. Deve ser feito a excerese cirúrgica ampla ou eletrocoagulação ampla, mais precocemente possível, para que vc mate a pele e o fungo, pois é difícil matar o fungo sozinho. As únicas drogas que têm demonstrado valor são os imidazólicos e de preferêcia o itraconazol, especialmente para o Fonsecae pedrosoi. Itraconazol 200 ou 400mg, 2 a 4 comp/dia durante 1 a 2 anos e às vezes qdo vc para a droga, o quadro reativa.
  • Micetoma (miceto = fungo; Oma = aumento, tumoração)

É uma tumoração as custas nódulos individualizados que fistulizam, ou seja, se transformam em goma q drenam uma secreção que contém grãos tipo areia que podem ter coloração variada (branca, preta, amarela, vermelha) e estes grãos são colônias de agente etiológico, ele forma uma colônia muito densa. Não tem nenhuma sintomatologia geral, processo absolutamente indolente, de lento crescimento e lenta extensão, não faz lesão à distância, é uma progressão por contigüidade. Para a prova, é importante saber que existem 3 classes de micetomas.
A 1ª classe é causada pelo actinomiceto (micetoma actinomicótico). Actinomicetos não são fungos, são bactérias superiores com vida sexuada. Os principais agentes etiológicos são: Nocardia brasiliensis (mais freqüente no Brasil) por penetração percutânea vai provocar a formação do micetoma. O Actinomices israeli é importante pq é saprófita das cavidades humanas, capaz de provocar micetomas endógenos. Por exemplo: pc vai extrair um dente e naquele local o actinomices penetra, forma um nódulo que vai depois fistulizar para a superfície da pele e então vc vai ter micetomas actinomicóticos cérvico-faciais, torácicos e trato digestório. Não é comum no Brasil, sendo mais comum na Argentina.
2ª classe: micetoma maduromicótico. Causado por fungos verdadeiros. Freqüente na África. É importante guardar só como agente etiológico a Madurella sp.
3ª classe: batriomicose. Tudo acontece igual aos antriores, mas o agente etiológico é uma bactéria comum, especialmente estafilococos. Então, são determinados pcs que ao invés de reagir contra o estafilo mandando PMN, fazendo pus, abscesso e drenando, ele forma um granuloma e depois um micetoma.
Epidemiologia: o Norcadia existe no solo.
O que fecha o diag é a presença de grãos no nódulo e a falta de sintomatologia geral.
Diag Laboratorial: cultura para bactérias.
Diag Diferencial: praticamente não tem.
TTO: muito complexo. O Norcadia responde bem ao Trimetropim. O Actinomices é sensível a penicilina cristalina IV. Os outros se tenta tratar, mas normalmente não resolve. A batriomicose, faz-se cultura + antibiograma.
A lesão do micetoma drena pus e sangue constantemente de forma indolor.

  • Paracoccidioidomicose

Agente etiológico: Paracoccidioides brasiliensis.
É a principal micose que temos que ver. Primeiro pq é a única de caráter sistêmico. Porém, pode estar restrita a pele e linfonodos. Qq especialidade vai ter um diag diferencial com paracoco pq qq coisa que o BK faz, o paracoco faz tbm. Por exemplo: chegou um paciente no consultório queixando-se de febre vespertina, tosse com secreção esverdeada, emagrecimento, evoluindo há +/- 4 meses. Qual a principal hipótese diagonótica? BK. Vc radiografa e observa na chapa uma cavitação ou um infiltrado em ápice. Às vezes vc encontra infiltrado difuso ou cavitação no terço médio do pulmão. É estranho, mas continua sendo BK. Qual o próximo passo? BAAR. Este, no caso, vem negativo ou até positivo (obs: pode haver co-infecção BK-paracoco). No exame do escarrro vem dizendo que tem células leveduriformes, com dupla membrana e gemulação múltipla. Neste caso, a hipótese cai sobre o paracoco. Mas qq infecção fúngica poderia dar isso. Aí, faz o exame micológico com cultura e semeia isso em dois meios. Um meio comum (Saboraud) não enriquecido e deixar a 25°C imitando a situação ambiente. Outro meio é com sangue (agar-chocolate) e colocar a 37°C imimtando a situação do hospedeiro. No meio a 25°C, vc vai ter um crescimento muito lento, levando 4 semanas crescendo hifas septadas e ramificadas que é como o paracoco é encontrado na natureza. No meio a 37°C, vc vai encontrar colônias de células leveduriformes de dupla membrana com gemulação única ou múltipla. Há um dimorfismo,ou seja, em cada meio o crescimento do paracoco é diferente. Outros fungos apresentam este dimorfismo. Mas no meio desta colônia, vc encontra com vários esporos as gêmulas do mesmo tamanho em torno dela (roda de leme). Isto pq o paracoco é o único fungo capaz de fazer criptoesporulação. Em determinado momento, aquela célula grande pegou a cromatina dela, duplicou, partiu em um monte de pedacinhos iguais. Estes pedacinhos chegaram para a periferia da célula, e no mesmo momento houve gemulação de todos estes pedaços. Isto é caractrítica do paracoco.
A inoculação do paracoco é por VAS.
Epidemiologia: habitat natural é a vegetação, a mata.
É muito freqüente a lesão de boca e na região anal.
Fisiopatogenia: inoculação pela VAS, chega nos pulmões e faz o complexo primário igual ao BK, faz drenagem linfática, vai para o hilo, linfonodo perihilar infartando este gânglio. O pc pode ser sintomático ou não.
O paracoco só ocorre só na América, do México a Patagônia. Exceto no Chile.
A latência do paracoco pode ser igual a do BK, levando em alguns casos muitos anos.
Após aquela fase toda no pulmão, ele faz disseminação hematogênica igual ao BK. Em geral, o sistema imune consegue resolver isto, exceto por uma ou outra forma que persiste em algum lugar e a primoinfecção já aparece se manifestando de forma grave ou, consegue resolver de forma parcial e ela não se manifesta de forma grave, mas de forma intermediária e um órgão ou vários.
A freqüência de comprometimento: 1º lugar: pulmão. Depois, linfonodos, depois mucosa oral, depois pele e depois todo e qq órgão que vc possa imaginar do corpo, só não tem registro de infecção no SN periférico.
O quadro clássico de lesão tegumentar é a lesão de mucosas. Uma lesão exulcerada, que tem aspecto finamente granuloso, com pontas hemorrágicas parecendo uma amora (estomatite moriforme) que é patognomônico.
Diag Diferencial: leishmaniose (esta ocorre mais no nariz).
O pc tem uma febre muito parecida com a do BK.
O exame micológico direto é riquíssimo em paracoco. A histopatologia vai evidenciar um granuloma com células gigantes multinucleadas com a presença dos paracocos fagocitados e extracelulares tbm. A cultura é importante para fazer o diag diferencial com outros fungos, principalmente histoplasmose.
TTO: a droga que é fungicida é a Anfotericina B que é tóxica e tem que internar o doente, fazendo o esquema que vai aumentando a dose gradativamente nas formas graves. Nas formas circunscritas na pele, linfonodos e mucosa oral, vc pode usar SMZ/TMP ou imidazólicos. SMZ/PMP por 2 anos. Itraconazol é o imidazólico de escolha, vc faz 200-400mg/dia por 2 anos. Tem que ser feito acompanhamento laboratorial com VHS. O pc curado, o VHS volta ao normal. Se ele tiver uma recaída, o VHS sobe. Pode tbm fazer o acompanhamento sorológico.
Lembrar que esporotricose e paracoco vc pode fazer teste imunológico semelhante ao PPD com esporotriquina e paracoccidioidina. Pc muito grave, com SI muito abalado, pode não ter resposta ao teste para paracoco mesmo tendo a infecção.


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Um comentário:

  1. Excelente texto. Estou com uma lesão sobre a mão, próxima ao dedo indicador. Tomei antibiótico e anti-inflamatório, sem resposta. Na biópsia apareceu granuloma e célula multinucleadas. A Dermatologista solicitou cultura para fungos, mas o tempo de resposta do exame é de até 30 dias corridos e estou aguardando o resultado. Fui inúmeras vezes a médicos sem que descobrissem a causa, desde março/2016. A lesão tem reduzido o seu tamanho, mas dói ao toque e parece um "galo na testa", pois a mão está inchada na região da lesão, com um diâmetro de dois centímetros. O corticoide de uso local não traz nenhuma melhora. O ultrassom, o raio x e a tomografia demonstraram que os ossos e articulações não foram afetados e que somente as partes moles mostram alterações, conforme a biópsia, tem granuloma e celular multinucleadas. O qu os especialistas em micose acham? Obrigado. Se tiverem alguma opinião, podem me escrever no e-mail claudiocpestana@yahoo.com.br

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