Na dermatologia vamos abordar as micoses profundas que são aquelas q invadem a pele, atingem o tecido celular subcutâneo e que vão, eventualmente, comprometer outros órgãos e sistemas (diferente das micoses superficiais que ficam restritas a camada córnea).
Falaremos
das micoses profundas de interesse dermatológico: espotricose,
cromomicose e micetomas que são restritos ao tecido celular
subcutâneo podendo atingir linfonodos. A paracococidioidomicose é
que veremos com mais detalhes ou blastomicose sul-americana que é de
comprometimento sistêmico.
- Esporotricose
A
esporotricose é causada pelo Esporotrix
schenkii
que é um fungo de distribuição universal e se desnvolve nas
vegetações, principalmente na palha. De forma endêmica a
esporotricose vai ocorrer principalmente em determinadas ocupações
(floricultor, agricultor, ...). Exceto qdo vc tem o gato doméstico
como vetor q é um grande vetor responsável por microepidemias em
determianadas regiões. Geralmente tem um só foco de inoculação.
No homem, qdo vc vai fazer exame micológico, vc dificilmente
encontra o fungo. No gato não, ele tem uma grande quantidade de
fungo no exame micológico direto.
A
fisiopatogenia é igual para todos, excetuando o paracoco. A doença
ocorre por inoculação percutânea. Este fungo desencadeia no ser
humano uma resposta granulomatosa sempre. Não faz exudação nem
supuração, somente o granuloma. E o que é o granuloma? Vc tem os
macrófagos do local q se aproximam do Ag e estes macrófagos
precisam ser ativados por lifócitos para fagocitar. Então, vc tem
os linfócitos estimulando eles e eles se transformam em células
epitelióides que são macrófagos ativados. Eles têm competência
para restringir o parasito q pode ser o BK, por exemplo, mas não têm
competência para destruir. Eles então englobam o Ag formando o
granuloma com um monte de células multinucleadas e uma coroa de
linfócitos em volta disto tudo que está mandando citocinas para
manter os macrófagos ativados. É isto que veremos na patologia de
todos eles. Viu resultado de patologia escrito granuloma, pensamos
em: Bk, sarcoidose e sempre as micoses profundas como diagnóstico
diferencial.
Clínica:
pc foi fazer um arranjo de flores, se espetou num espinho e assim foi
inoculado o Esporotrix.
Isto fica como um ferimento tolo e depois de +/- 1 ou 2 semanas, ao
invés da cura, fica como uma pápula eritematosa como se fosse uma
picada de inseto. O pc não dá muita importância e depois de mais 2
a 4 semanas, aquilo que era uma pápula, ulcera pq a tensão do
granuloma na pele sobrejacente causa isquemia, pq está expandindo e
alterando a vascularização daquele lugar, tendo como resultado a
ulceração.
Lesão
elementar: lesão nódulo-tuberosa ulcerada. É uma pápula que vai
se aprofundando, vira um nódulo ou tubérculo, uma lesão
nódulo-tuberosa que compromete toda extensão da derme reticular.
Esta é a lesão inicial da esporotricose que ocorre na maioria das
vezes nas mãos. O pc é assintomático, não tem dor, nem febre. De
repente começa a surgir nódulos no trajeto linfático que drena
aquela lesão. Nódulos eritematosos, pouco ou nada dolorosos, duros
e depois de um tempo começam a ter flutuação central e fistulizam,
drenando uma secreção pio-sangüinolenta. Um nódulo que fistuliza
denomina-se GOMA (lesão típica da esporotricose). A apresentação
característica é de linfangite nodular ascendente (ou descendente,
depende do local de inoculação do fungo). O que diferencia isto de
uma infecção bacteriana? Na infecção bacteriana, o pc vai estar
febril, toxêmico e alegando muita dor. Pc com esporotricose não
apresenta estes sintomas. Às vezes, se o pc apresentar uma excelente
resposta imunológica ao fungo, a lesão pode se apresentar como uma
lesão vegetante ( lesão verrucosa de caráter infeccioso).
Diagnóstico
laboratorial: demonstrar o parasito na lesão. Biópsia da lesão com
envio de material para micologia e parte para cultura (cresce com uma
semana). A patologia só vai ver o granuloma e não te diz nada. Para
a prova: exame micológico direto e cultura.
Diagnóstico
diferencial: qdo a lesão é a goma: leishmaniose e micobacterioses
atípicas. Na forma verrucosa: LECT leishmaniose, esporotricose,
cromomicose, tuberculose cutânea, excluindo o HPV que provoca a
verruga vulgar que é uma lesão verrucosa.
TTO:
diferente de tudo. Tem como preferência o iodeto de potássio que
desfaz o granuloma sozinho. Se não tratar, cura espontaneamente, mas
deixa várias cicatrizes. Tem que mandar fazer em manipulação,
solução saturada de iodeto de potássio e manda o pc tomar 10 gotas
com suco ou leite nas 3 refeições diárias devido ao gosto
metálico, e vai aumentando 1 gota por dia em cada tomada. Em geral,
com 30 gotas vc resolve o problema e qdo houver a cura clínica, vc
ainda mantém por mais 1 mês esta solução e depois suspende.
Para alérgicos a iodo: itraconazol 2 comp 100mg/dia com o mesmo
critério para suspensão do tto. A terbinafina (lamisil) 250mg/dia
tbm funciona.
- Cromomicose (micose = fungo; cromo = cor)
Pc
assintomático apresentando lesão vegetante verrucosa com vários
pontos pretos na lesão devido pigmento produzido pelo fungo. O fungo
está na derme profunda e provoca, devido a toxicina, um estímulo
para epiderme crescer formando a lesão que lentamente vai
progredindo por contig6uidade. Na visualização microscópica, vê-se
células leveduriformes arredondadas de tonalidade castanha. Esta
lesão verrucosa é porta de entrada para uma erisipela, por exemplo.
Nenhuma destas micoses profundas têm contagiosidade inter-humana.
Agentes
etiológicos: Fonsecae
pedrosoi
(principal no Brasil), Phiolophora
verrucosae, Cladosporium carrioni.
Epidemiologia:
fungo saprófita do solo e por isso é uma dç basicamente do homem
adulto agricultor.
Fisiopatogenia:
contaminação por penetração percutânea, trauma e muito comum em
MMIIs. Fungo penetrou, fez granuloma, estimulou a epiderme a crescer,
fez hiperplasia epidérmica verrucosa com progressão lenta e
contínua.
Histopatologia:
granuloma com presença das células fúngicas arredondadas
acastanhadas.
Diag
labortorial: exame micológico direto e cultura.
Diag
diferencial: LECT.
TTO:
muito difícil. Deve ser feito a excerese cirúrgica ampla ou
eletrocoagulação ampla, mais precocemente possível, para que vc
mate a pele e o fungo, pois é difícil matar o fungo sozinho. As
únicas drogas que têm demonstrado valor são os imidazólicos e de
preferêcia o itraconazol, especialmente para o Fonsecae
pedrosoi. Itraconazol
200 ou 400mg, 2 a 4 comp/dia durante 1 a 2 anos e às vezes qdo vc
para a droga, o quadro reativa.
- Micetoma (miceto = fungo; Oma = aumento, tumoração)
É
uma tumoração as custas nódulos individualizados que fistulizam,
ou seja, se transformam em goma q drenam uma secreção que contém
grãos tipo areia que podem ter coloração variada (branca, preta,
amarela, vermelha) e estes grãos são colônias de agente
etiológico, ele forma uma colônia muito densa. Não tem nenhuma
sintomatologia geral, processo absolutamente indolente, de lento
crescimento e lenta extensão, não faz lesão à distância, é uma
progressão por contigüidade. Para a prova, é importante saber que
existem 3 classes de micetomas.
A
1ª classe é causada pelo actinomiceto (micetoma actinomicótico).
Actinomicetos não são fungos, são bactérias superiores com vida
sexuada. Os principais agentes etiológicos são: Nocardia
brasiliensis
(mais freqüente no Brasil) por penetração percutânea vai provocar
a formação do micetoma. O Actinomices
israeli
é importante pq é saprófita das cavidades humanas, capaz de
provocar micetomas endógenos. Por exemplo: pc vai extrair um dente e
naquele local o actinomices penetra, forma um nódulo que vai depois
fistulizar para a superfície da pele e então vc vai ter micetomas
actinomicóticos cérvico-faciais, torácicos e trato digestório.
Não é comum no Brasil, sendo mais comum na Argentina.
2ª
classe: micetoma maduromicótico. Causado por fungos verdadeiros.
Freqüente na África. É importante guardar só como agente
etiológico a Madurella
sp.
3ª
classe: batriomicose. Tudo acontece igual aos antriores, mas o agente
etiológico é uma bactéria comum, especialmente estafilococos.
Então, são determinados pcs que ao invés de reagir contra o
estafilo mandando PMN, fazendo pus, abscesso e drenando, ele forma um
granuloma e depois um micetoma.
Epidemiologia:
o Norcadia
existe no solo.
O
que fecha o diag é a presença de grãos no nódulo e a falta de
sintomatologia geral.
Diag
Laboratorial: cultura para bactérias.
Diag
Diferencial: praticamente não tem.
TTO:
muito complexo. O Norcadia
responde bem ao Trimetropim. O Actinomices
é sensível a penicilina cristalina IV. Os outros se tenta tratar,
mas normalmente não resolve. A batriomicose, faz-se cultura +
antibiograma.
A
lesão do micetoma drena pus e sangue constantemente de forma
indolor.
- Paracoccidioidomicose
Agente
etiológico: Paracoccidioides
brasiliensis.
É
a principal micose que temos que ver. Primeiro pq é a única de
caráter sistêmico. Porém, pode estar restrita a pele e linfonodos.
Qq especialidade vai ter um diag diferencial com paracoco pq qq coisa
que o BK faz, o paracoco faz tbm. Por exemplo: chegou um paciente no
consultório queixando-se de febre vespertina, tosse com secreção
esverdeada, emagrecimento, evoluindo há +/- 4 meses. Qual a
principal hipótese diagonótica? BK. Vc radiografa e observa na
chapa uma cavitação ou um infiltrado em ápice. Às vezes vc
encontra infiltrado difuso ou cavitação no terço médio do pulmão.
É estranho, mas continua sendo BK. Qual o próximo passo? BAAR.
Este, no caso, vem negativo ou até positivo (obs: pode haver
co-infecção BK-paracoco). No exame do escarrro vem dizendo que tem
células leveduriformes, com dupla membrana e gemulação múltipla.
Neste caso, a hipótese cai sobre o paracoco. Mas qq infecção
fúngica poderia dar isso. Aí, faz o exame micológico com cultura e
semeia isso em dois meios. Um meio comum (Saboraud) não enriquecido
e deixar a 25°C imitando a situação ambiente. Outro meio é com
sangue (agar-chocolate) e colocar a 37°C imimtando a situação do
hospedeiro. No meio a 25°C, vc vai ter um crescimento muito lento,
levando 4 semanas crescendo hifas septadas e ramificadas que é como
o paracoco é encontrado na natureza. No meio a 37°C, vc vai
encontrar colônias de células leveduriformes de dupla membrana com
gemulação única ou múltipla. Há um dimorfismo,ou seja, em cada
meio o crescimento do paracoco é diferente. Outros fungos apresentam
este dimorfismo. Mas no meio desta colônia, vc encontra com vários
esporos as gêmulas do mesmo tamanho em torno dela (roda de leme).
Isto pq o paracoco é o único fungo capaz de fazer
criptoesporulação. Em determinado momento, aquela célula grande
pegou a cromatina dela, duplicou, partiu em um monte de pedacinhos
iguais. Estes pedacinhos chegaram para a periferia da célula, e no
mesmo momento houve gemulação de todos estes pedaços. Isto é
caractrítica do paracoco.
A
inoculação do paracoco é por VAS.
Epidemiologia:
habitat natural é a vegetação, a mata.
É
muito freqüente a lesão de boca e na região anal.
Fisiopatogenia:
inoculação pela VAS, chega nos pulmões e faz o complexo primário
igual ao BK, faz drenagem linfática, vai para o hilo, linfonodo
perihilar infartando este gânglio. O pc pode ser sintomático ou
não.
O
paracoco só ocorre só na América, do México a Patagônia. Exceto
no Chile.
A
latência do paracoco pode ser igual a do BK, levando em alguns casos
muitos anos.
Após
aquela fase toda no pulmão, ele faz disseminação hematogênica
igual ao BK. Em geral, o sistema imune consegue resolver isto, exceto
por uma ou outra forma que persiste em algum lugar e a primoinfecção
já aparece se manifestando de forma grave ou, consegue resolver de
forma parcial e ela não se manifesta de forma grave, mas de forma
intermediária e um órgão ou vários.
A
freqüência de comprometimento: 1º lugar: pulmão. Depois,
linfonodos, depois mucosa oral, depois pele e depois todo e qq órgão
que vc possa imaginar do corpo, só não tem registro de infecção
no SN periférico.
O
quadro clássico de lesão tegumentar é a lesão de mucosas. Uma
lesão exulcerada, que tem aspecto finamente granuloso, com pontas
hemorrágicas parecendo uma amora (estomatite moriforme) que é
patognomônico.
Diag
Diferencial: leishmaniose (esta ocorre mais no nariz).
O
pc tem uma febre muito parecida com a do BK.
O
exame micológico direto é riquíssimo em paracoco. A histopatologia
vai evidenciar um granuloma com células gigantes multinucleadas com
a presença dos paracocos fagocitados e extracelulares tbm. A cultura
é importante para fazer o diag diferencial com outros fungos,
principalmente histoplasmose.
TTO:
a droga que é fungicida é a Anfotericina B que é tóxica e tem que
internar o doente, fazendo o esquema que vai aumentando a dose
gradativamente nas formas graves. Nas formas circunscritas na pele,
linfonodos e mucosa oral, vc pode usar SMZ/TMP ou imidazólicos.
SMZ/PMP por 2 anos. Itraconazol é o imidazólico de escolha, vc faz
200-400mg/dia por 2 anos. Tem que ser feito acompanhamento
laboratorial com VHS. O pc curado, o VHS volta ao normal. Se ele
tiver uma recaída, o VHS sobe. Pode tbm fazer o acompanhamento
sorológico.
Lembrar
que esporotricose e paracoco vc pode fazer teste imunológico
semelhante ao PPD com esporotriquina e paracoccidioidina. Pc muito
grave, com SI muito abalado, pode não ter resposta ao teste para
paracoco mesmo tendo a infecção.
Excelente texto. Estou com uma lesão sobre a mão, próxima ao dedo indicador. Tomei antibiótico e anti-inflamatório, sem resposta. Na biópsia apareceu granuloma e célula multinucleadas. A Dermatologista solicitou cultura para fungos, mas o tempo de resposta do exame é de até 30 dias corridos e estou aguardando o resultado. Fui inúmeras vezes a médicos sem que descobrissem a causa, desde março/2016. A lesão tem reduzido o seu tamanho, mas dói ao toque e parece um "galo na testa", pois a mão está inchada na região da lesão, com um diâmetro de dois centímetros. O corticoide de uso local não traz nenhuma melhora. O ultrassom, o raio x e a tomografia demonstraram que os ossos e articulações não foram afetados e que somente as partes moles mostram alterações, conforme a biópsia, tem granuloma e celular multinucleadas. O qu os especialistas em micose acham? Obrigado. Se tiverem alguma opinião, podem me escrever no e-mail claudiocpestana@yahoo.com.br
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