São
as dermatoses infecto-contagiosas causadas pelos germes piogênicos
estreptococo e/ou estafilococo.
Classificação
(temos uns 15 tipos de piodermites). Vamos listar as três mais
comuns:
- Formas superficiais Atingem a epiderme e às vezes o teto da derme (impetigo e ectima)
- Formas que atingem os anexos maioria das piodermites (foliculite, furúnculo, periporite e hidradenite).
- Forma dermo-hipodérmica Atinge o fundo da derme e hipoderme (erisipela)
Generalidades:
- Infecção secundária: não confundir piodermites (doenças primarias) com as infecções secundárias. As mesmas bactérias causam uma infecção em uma dermatose pré-existente. Por exemplo: O certo é dizer escabiose com infecção secundária por estafilococo e não escabiose mais piodermite.
- Idade: Existem piodermites que atingem mais as crianças e outras que atingem mais os adultos. As formas das crianças são mais superficiais (impetigo e ectima), enquanto adultos têm mais as formas dos anexos. A erisipela pode acontecer em qualquer idade. As crianças apresentam as formas superficiais pois têm menos camada córnea na pele, produz menos sebo (produto que sai da glândula sebácea e é bactericida, o pH da pele infantil é menos ácido chegando a alcalinizar em alguns casos, o sistema imunológico não está bem funcionante e elas têm menos noção de higiene.
- Flora residente e flora transitória: A primeira pode se tornar patogênica e a segunda pode ser adquirida por contágio; estáfilo um terço da população no vestíbulo nasal, períneo e outras dobras (áreas críticas) e estreptococo menos comum, mas pode ser encontrado no vestíbulo nasal.
- Fatores predisponentes: Qualquer pessoa pode ter piodermites. Há fatores que favorecem o aparecimento de repetições dessas doenças e é por isso que o tratamento visa tanto eliminar as bactérias quanto corrigir esses fatores também. O pH alcalino da pele (crianças), má higiene, microclimas (calor e umidade nas axilas, regiões perianal e perineal, barreira química (quanto mais sebo na pele, melhor), diabetes (problemas na microcirculação da pele, pH, imunidade), deficiências nutricionais (crianças distróficas), deficiências imunológicas (IgM, fatores do complemento favorece muito o aparecimento de piodermites de repetição), terapia com corticoesteróides e imunossupressores, grau de virulência da bactéria (muito importante na hora do tratamento), problemas crônicos como ins. Renal e etc...
PIODERMITES
Formas
Superficiais:
IMPETIGO
Etiologia:
Estafilococo e/ou estreptococo
Quadro
Clínico: Bolhas purulentas e/ou pústulas, que se arrebentam com
muita facilidade e originam áreas exulceradas. Essas áreas vão se
recobrir de crostas melicéricas (crosta formada pelo pus, com
aspecto de mel). A crosta cai e a pele se recupera, pois o impetigo é
epidérmico e não deixa cicatriz. O que acontece muito nessa doença
são as lesões satélites por autoinoculação, devido a coceira das
crianças, podendo passar para os irmãos com muita facilidade
(criança contamina criança pois estão sempre juntas e têm a
camada córnea menos espessa). A criança não se queixa das bolhas,
não dói muito. Freqüentemente a queixa vem dos pais, que não
querem ver seus filhos com essas bolhas e crostas.
Local
de preferência: Face e membros superiores e inferiores na criança
pré-escolar. A face, pois está muito próximo ao vestíbulo nasal,
que é uma área com grande quantidade de bactérias. Membros
principalmente por causa da coceira.
Complicação:
Dependendo da cepa, o estreptococo pode causar glomerulonefrite.
ECTIMA
Etiologia:
Estreptococo e/ou mista (tem que ter o estrepto)
Quadro
Clínico: Muito parecido com o impetigo. É mais grosseiro, pois só
tem bulhas purulentas e grandes, que se rompem formando exulcerações
com tendência a formar ulcerações. Isso se deve porque no ectima
sempre tem o estreptococo em sua etiologia, bactéria que possui
enzimas que facilitam a penetração e acometimento também da derme.
Essa doença pode provocar cicatrizes, mas o tratamento precoce evita
o aparecimento delas. Também tem crostas espessas e melicéricas.
Local
de preferência: O ectima é preferencialmente de membros inferiores
em crianças na faixa escolar (acima de 7 anos) e em alguns adultos.
Vulgarmente é chamado de pereba e a complicação também é o
glomerulonefrite (estreptococo).
Forma
dos Anexos
Só o Estafilococo faz parte da etiologia dessas doenças.
FOLICULITE
Etiologia:
Estafilococo
Quadro
Clínico: Pústulsa no óstio folicular, geralmente em áreas pilosas
(couro cabeludo e membros). Preferem o folículo pilo sebáceo que
tem pêlo (muito raros em áreas de folículo sem pêlo, como ombro,
face externa do braço). Quando as pessoas se depilam, ou quando o
homem faz a barba, fica mais fácil de se fazer foliculite. Essa
doença não interfere no crescimento dos pêlos, eles voltam a
crescer após o tratamento.
Acontece
mais no adulto e pode evoluir para o furúnculo. Criança tem menos
folículos com pêlo e por isso tem menos foliculite. Se a glândula
sebácea necrosar, essa foliculite passa e ser furúnculo.
Existem
2 formas profundas: Sicose (na barba, com tendência a cronicidade,
com traramento difícil) e hordéolo (foliculite profunda de cílios
podendo acometer a glândula de Meibomius
Terçol).
FURÚNCULO
O
estafilococo penetra a glândula sebácea, causa uma reação
inflamatória de grande monta e destrói a glândula. Nessa doença
temos sintomas sistêmicos, como febre, calor, rubor, adenopatias
regionais.
Quadro
Clínico: Nódulo eritematoso, doloroso, quente que mais tarde evolui
para flutuação e drenagem espontânea de pus, sangue e carnegão
(gl. Sebácea necrosada). Nós temos que evitar que o paciente chegue
nessa fase de drenagem espontânea, o ideal é o tratamento precoce.
Local
de preferência: Nádegas, pescoço (nuca) e hipogástrio (pêlos da
linha média).
Furunculose
lesões múltiplas com recidivas freqüentes.
Antraz
Confluência de vários furúnculos. É o coletivo de furúnculos.
Obs.:
Antraz
corresponde a carbuncle em inglês (Estafilococo)
Carbúnculo
corresponde a anthrax em inglês (Bacillus anthracis)
PERIPORITE
Comprometimento
da glândula sudorípara écrina (GSE) pelo estafilococo. Essa
glândula é responsável pela produção de suor sem odor, em locais
como testa, palmas. Microscopicamente, na pele temos 2 orifícios: o
folículo pilo sebáceo e a glândula sudorípara. A glândula
sudorípara apócrina (GSA) não tem saída própria, procurando um
folículo próximo dela para a saída do suor (esse suor com odor,
produzido pelas axilas, região perianal e perineal). Como a
periporite é a infecção da GSE, que na pele é um orifício igual
ao folículo pilo sebáceo, essa doença é muito igual a foliculite.
Vale lembrar que a periporite é mais comum na criança.
Quadro
Clínico: Pústulas e nódulos na abertura das GSE, com drenagem de
pus cremoso, sem carnegão (a glândula é muito profunda e o
estafilococo não atinge).
Local
de preferência: Face, couro cabeludo e tórax. É comum após a
miliária ou brotoeja (as milhares de GSE no verão produzem grande
quantidade de suor e ás vezes esse suor fica retido no canal da
glândula, causando a infecção local
“pontinhos vermelhos”).
HIDRADENITE
Acometimento
da glândula sudorípara apócrina. O estafilococo entra, se ele
seguir reto no folículo pilo sebáceo, causa o furúnculo. Agora se
cair em uma comunicante de glândula apócrina, causa a hidradenite.
O quadro clínico é bastante parecido com o furúnculo, sendo
chamado de “furúnculo das axilas” pelos clínicos e cirurgiões.
Também não apresenta carnegão.
Quadro
Clínico: nódulos e tumorações globosas, dolorosas e com sintomas
gerais.
Local
de preferência: Só em adultos nas GSA axilares, perianais ou
perigenitais (essas glândulas são ativas somente após a
puberdade). Tende a recorrência, com trajetos fistulosos e
cicatrizes hipertróficas. Vale lembrar que essa glândula em outros
animais serve para liberação de odores para atrair seus parceiros
sexuais, os chamados ferormônios.
Forma
Dermo-Hipodérmica:
ERISIPELA
Etiologia:
Estreptococo
É
um acometimento da derme profunda e hipoderme superficial. O tecido
todo é acometido e a inflamação dessa região é a celulite (a
erisipela é o tipo mais freqüente de celulite, sendo mais
superficial).
Quadro
Clínico: Área eritematosa, quente, edemaciada, dolorosa (às vezes
com bolhas), com febre, cefaléia, calafrios.
Local
de preferência: Membros inferiores e face. Tende a ficar crônica,
atingindo linfáticos, causando linfangite, adenopatias e se não
houver um tratamento pode causar um linfedema (elefantíase). Também
pode causar septicemia, glomerulonefrite.
DIAGNÓSTICO:
Sempre
através de dados clínicos.
TRATAMENTO:
Eliminação
dos fatores predisponentes quando possível (deficiências
imunológicas, diabetes...)
Tópico:
Principalmente permanganato de potássio (KmnO4) e água boricada. O
KmnO4 é mais utilizado, mas não pode ser usado em áreas de mucosas
(conjuntival, oral). É mais fácil de usar, a regra é diluir 1
comprimido ou 1 envelope para 3 ou 4 litros de água. Tem que ser
preparado na hora porque a ação antisséptica do KmnO4 se dá pela
liberação de oxigênio. Esses oxigênios livres diluídos agem nas
bactérias durante 20 a 30 minutos. Não adianta fazer estoques de
soluções de KmnO4, porque depois de 30 minutos perde seu potencial
antisséptico, vira água colorida. Aplicar 2 vezes ao dia.
A
água boricada serve para pequenas áreas (terçol, áreas perto do
nariz,...), mas o KmnO4 tem poder antisséptico maior.
Sabonetes
germicidas, antibióticos tópicos · muito bons para as formas
superficiais. Os mais utilizados são a neomicina e bacitracina (vem
sempre juntos). O poder de penetração deles é pequeno e a
resistência é grande. É barato, mas tem pouca valia. Os mais
modernos têm um poder de penetração 5 vezes maior e têm menos
resistência
Ácido fusídico, mupirocin... No furúnculo e na hidradenite
(piodermites mais profundas), esses cremes são apenas coadjuvantes.
Sitêmico:
Em casos de erisipela, hidradenite, periporite, furúnculo, temos que
usar antibiótico sistêmico. Numa foliculite, podemos fazer somente
o tratamento tópico. Impetigo e ectima dependem da extensão.
Temos
uma regra na dermatologia:
Estreptococcias
Penicilina Benzatina e Procaína
Estafilococcias
Cefalosporinas, eritromicina (para os alérgicos a penicilina) e
aminopenicilinas (ampcilina ou amoxicilina, são drogas de segunda
escolha).
Existem
3 cefalosporininas mais utilizadas na dermatologia: cefalexina,
cefprozil e cefaclor.
Furnculose
não adianta fazer benzetacil.
Esquema
para erisipela: Começar com penicilina procaína, 12/12hs por 5
dias. Depois fazer penicilina benzatina de 15/15 dias e depois de mês
em mês durante 6 meses.
Outras
medidas: descolonização dos reservatórios, calor úmido, drenagem
cirúrgica e vacinas (toxóide estafilocócico).
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